As células estaminais são células do nosso próprio corpo que têm a capacidade de se transformar em células específicas de cada tecido e órgão do corpo, de acordo com as necessidades do organismo. Em geral, estão presentes em grande quantidade no organismo na fase de transformação e crescimento do bebé, ainda na barriga da mãe. Com os avanços da ciência, entretanto, já é possível recolhê-las e concentrá-las também em adultos, para, entre outros fins, ajudar a tratar as lombalgias.
As lombalgias são dores localizadas na região lombar, que corresponde à base da coluna, entre as costelas inferiores e os glúteos. Podem também irradiar para as nádegas e face posterior das coxas. Em Portugal, cerca de 70% das queixas de dores nas costas referem-se a dores lombares. Estas podem ser agudas (com duração aproximada de duas semanas) ou crónicas (com duração superior a 3 meses) e podem tornar-se incapacitantes, com um grande impacto pessoal e profissional, sendo uma das principais causas de reforma por invalidez. A coluna vertebral é composta por 33 vértebras. Entre cada par de vértebras existem duas articulações laterais, uma em cada lado, chamadas facetas. As facetas ligam as vértebras entre si e mantêm a flexibilidade da coluna, permitindo que cada vértebra possa rodar. Têm também uma cartilagem revestida por uma membrana fina (membrana sinovial) que produz líquido sinovial, mantendo a articulação lubrificada e permitindo movimentos vertebrais suaves.
As causas mais comuns de dor lombar são patologias que causam irritação ou inflamação das facetas, discos intervertebrais e/ou articulações sacroilíacas. Além de dores lombares, o desgaste destas estruturas pode causar a compressão dos nervos circundantes, originando dores ciáticas. É então necessário recorrer à fisioterapia, fármacos ou mesmo cirurgia.
A terapia regenerativa com a utilização de células estaminais mesenquimatosas é um tratamento inovador que permite adiar ou evitar uma cirurgia. Utiliza células estaminais do próprio indivíduo, que constituem por isso a matéria-prima para a regeneração dos órgãos e tecidos. As células estaminais mesenquimatosas têm a capacidade de produzir osso, tendão, cartilagem, músculo e tecidos adiposo e conjuntivo, o que lhes confere um enorme potencial terapêutico na recuperação das articulações, tendões e cartilagens.
No caso específico das dores lombares, as células estaminais mesenquimatosas promovem a regeneração dos discos afetados pelo desgaste e ajudam na recuperação da cartilagem e membrana sinovial, melhorando a mobilidade das facetas e reduzindo assim a irritação e a inflamação das vértebras. As células estaminais são obtidas da medula óssea do próprio doente, através de um procedimento realizado em ambulatório, sob anestesia local. Após a colheita, as células são preparadas num equipamento especializado, utilizando um kit de concentração de células. Em cerca de 15 minutos obtém-se um concentrado celular que pode ser imediatamente injetado na zona articular afetada. O doente regressa a casa no mesmo dia, devendo nos dias seguintes à intervenção evitar atividades físicas que exijam esforço da coluna.
Este tratamento inovador pode reduzir eficazmente a dor lombar, podendo adiar ou mesmo evitar uma cirurgia.
© Redigido por Dr. Rodrigo Gorayeb (OM42763), coordenador do serviço de neurocirurgia no Trofa Saúde Amadora e Loures para o Jornal Correio da Manhã.